Como economista um tema que sempre atraiu minha atenção foi o Mercado de Trabalho, seja nas relações de troca que se expressam neste mercado, nas características empreendedoras ou nos desafios enfrentados pelas formas alternativas de produção, como as cooperativas. No cerne destas questões, o Capital Humano, ou seja, as competências e habilidades utilizadas na geração de valor, são as que mais me chamam atenção, pois são parte relevantes das variáveis controláveis capazes de levar um negócio ou uma carreira ao sucesso ou ao fracasso.
Com a inserção da Inteligência Artificial as relações de produção de bens e serviços têm se alterado paradoxalmente. Realidade que historicamente já foi vivenciada nas Revoluções Industriais anteriores, contudo, desta vez, experimentamos uma velocidade exponencial das mudanças trazidas pelas novas tecnologias. São inúmeras as profissões que estão desaparecendo, outras vão sendo reconfiguradas e tantas outras têm surgido, exigindo habilidades diferentes das que eram até agora imprescindíveis. Talvez, há dez anos atrás não imaginaríamos que um piloto de helicóptero e um cinegrafistas, seriam substituídos por um drone, para fazer a cobertura de vídeo áereo para uma reportagem.
Na semana passada, precisei ir ao banco, coisa rara hoje em dia, e no caixa (humano) solicitei a transação que eu precisava e o atendente fez tudo usando um par de cliques. Lembrei de quando eu era criança e ia ao banco com meus pais. Para um simples saque, os atendentes saiam do balcão, se deslocavam até um arquivo com milhares de fichas e voltavam com a que indicava a conta dos meus pais. Então, verificavam o saldo e entregavam a quantia de dinheiro, anotando na tal ficha o valor sacado e o quanto havia ficado na conta. Agora, pensando nas habilidades que este atendente deveria ter na época e quais deve ter agora, o que será que mudou?
Você consegue imaginar alguma profissão que não tenha sido impactada, diretamente ou indiretamente, pelas novas tecnologias?
Entre estas mudanças, está o fato de que muitas das competências e habilidades puramente técnicas, que eram vistas como diferenças nos currículos, hoje já não são capazes, por si só, de sustentar a trabalhabilidade neste início do século XXI. Em geral, estas são de fácil mensuração e podem ser descritas, como as qualificações acadêmicas que colocamos nos nossos currículos, por exemplo. Estas habilidades, as hard skills, não perdem sua importância, de forma alguma. Mas sozinhas, já não são suficientes no desenvolvimento da nossa trajetória de carreira.
De maneira geral, as pessoas são contratadas pelas suas hard skills. Mas o que define se serão demitidas, promovidas ou permanecerão onde estão, são suas Soft Skills. Então o que são estas Soft Skills?
As Soft Skills, são as chamadas habilidades socioemocionais, aquelas que utilizamos para nos relacionar com os outros e com nós mesmos.
Por serem subjetivas, são muito mais difíceis de avaliar, mas influenciam diretamente no nosso comportamento profissional e pessoal, e desta maneira, afetam o ambiente corporativo, a produtividade das equipes e a relação com clientes e fornecedores. Estas habilidades são fundamentais na adaptação de situações adversas e na geração de soluções criativas e sustentáveis.
O Fórum Econômico Mundial, para o ano de 2020 elencou as principais Soft Skills nesta sequência: Resolução de problemas complexos, Pensamento Crítico, Criatividade, Gestão de pessoas, Coordenação com os outros, Inteligência emocional, Julgamento e tomada de decisão, Orientação a servir, Negociação e Flexibilidade cognitiva. Esta é uma das diretrizes das Soft Skills mais relevantes, que por sua vez, podemos incluir outras habilidades como a Comunicação, Empatia, Autoconhecimento, Resiliência, Diversidade, Positividade e Gestão do tempo.
Muitas destas habilidades eram consideradas inerentes à nossa personalidade, como a Criatividade, por exemplo. Acreditava-se que sujeitos criativos, nasciam assim, como um dom supremo presenteado somente a alguns escolhidos. Mas os estudos apontam para a possibilidade real de desenvolvermos cada uma destas Soft Skills, assim como nos debruçamos a desenvolver as Hard Skills, nos cursos de idioma, graduação e pós graduação. Aqui entra outra habilidade chave, a de aprendermos a aprender, já que estamos num processo constante de aprendizados.
Tenho pesquisado e atuado no desenvolvimento de Soft Skills nos últimos quatro anos e percebo que sim, podemos aprender a ser mais empáticos, criativos, comunicativos e resolver problemas de maneira mais assertiva. E só temos a ganhar com o desenvolvimento deste nosso potencial capital humano. Afinal de contas, não vamos querer competir com os robôs no quesito eficiência, não é mesmo?
O nosso diferencial está em sermos Humanos e todas as características que nos fazem Humanos, são as que encontram e encontrarão cada vez mais espaço, seja no mercado de trabalho ou nas nossas relações pessoais. Muitas vezes leio que estas são as habilidades do futuro ou as habilidades do século XXI, e como este século já começou a duas décadas, o futuro já é agora! Então não dá para ficar esperando sentado.
Se a transformação digital já chegou, é momento de nos transformarmos também.