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Mulheres que correm com os lobos.

Chego às páginas finais deste livro que me acompanhou durante o ano. 

Eu já havia ensaiado sua leitura uma vez quando tinha 18 anos, na época, não passei da introdução. Na segunda vez, eu estava por volta dos 30, avancei até o início do primeiro capítulo, mas ele não me fisgou. 

Eu já havia esquecido dele, até que começou a aparecer na minha frente vários dias seguidos. Uma tarde entrei em um café em uma esquina do meu bairro e em uma mesa ao lado, quatro mulheres de idades diferentes estavam com ele em mãos. Notadamente devia ser o assunto do café delas. Alguns dias depois recebo um convite de uma amiga para um grupo de estudos deste livro, mas o horário não cabia na minha rotina. Entro na livraria e o primeiro livro que me chama a atenção: este. E para fechar este convite inusitado, estou almoçando e uma moça senta ao meu lado, com qual livro sobre a mesa? Sim, “Mulheres que correm com os lobos”.

Poderiam ser somente coincidências. Se você acredita piamente nisto, super entendo seu ponto de vista. Mas para mim, sempre que uma sequência destas me faz tropeçar em algo, paro e presto muita atenção. 

Bem, me entreguei ao convite e fui buscar a edição que estava esquecidinha na minha estante. Lembro de ainda pensar, “vamos ver se desta vez você me conquista”. E foi… fluiu feita água fresca naqueles dias quentes. As linhas da introdução escorreram pelos meu olhos. Devorei o primeiro capítulo e logo depois o segundo. 

Resolvi, ou melhor, senti, que deveria lê-lo sem pressa. E assim me permiti. Fui lendo cada capítulo ao seu tempo. E nestes pequenos espaços de tempo em que eu repousava o livro sobre a mesinha de cabeceira, estava a vida.

E ele voltava para acompanhar aqueles momentos de abajur ligado e chá de amora. Voltava para me lembrar do tanto que nós mulheres sabemos, la que sabe. Toda a infinitude de insights que muitas vezes esquecemos que já sabemos, mas aos nos depararmos com eles reavivamos a importância de  trazer à tona nossa própria consciência. 

E hoje fecho-o de novo. Reconhecendo em mim, uma mulher diferente daquela que leu sua primeira frase:

“Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas”.

E entre todos os contos que Clarissa Pinkola Estes narrou à luz dos arquétipos junguianos, das tradições pagãs, das filosofias antigas, das suas experiências como psicóloga, é impossível não me ver e ver tantas outras mulheres caminhando por entre  algumas daquelas linhas. 

Como entusiasta da criatividade que sou, foi aconchegante ver a força que esta habilidade imprime na autenticidade da alma feminina, surgindo como princípio da nossa essência, como caminho, como cura e como luz. 

Se me perguntarem: você recomenda este livro? Eu direi: experimente!

A leitura é mesmo uma magia, pois não são os livros que passam por nós, somos nós que passamos por eles. 

Não há despedida para um livro que tanto nos traz. O meu exemplar ficou todo destacado com cores, bilhetinhos em que guardei nossas conversas, marquinhas para destacar o que desejo relembrar, pronto para ser revisitado quando a vontade bater. Mas mesmo que se perca no tempo ou nas traças, este é, para mim, um daqueles livros dos quais levamos trechos copiados na alma. 

E assim terminou…

“Espero que vocês saiam e deixem que as histórias lhes aconteçam, que vocês as elaborem, que as reguem com seu sangue, suas lágrimas e seu riso até que elas floresçam, até que você mesma esteja em flor. Então, você será capaz de ver os bálsamos que elas criam, bem como onde e quando aplicá-los. É essa a missão. A única missão”.

Imagem: Editora Rocco

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