Quando pequena, com uns nove anos de idade, me deixaram costurar em uma máquina “de verdade” pela primeira vez. Estava feliz, pois já era grande o suficiente para pilotar aquela máquina, na qual eu via minhas avós e mãe criarem tantas coisas lindas, fazer remendos, abrir casas de botão… Estava muito entusiasmada em poder materializar todas as roupas de boneca que eu tinha em minha mente.
Lá fui eu, sentei na beirada da cadeira, para poder encostar no pedal da máquina. Para treinar, eu desejava apenas fazer uma costura reta em um pedaço de tecido qualquer. Deram-me todas as instruções técnicas. Eu estava pronta!
E a máquina saiu acelerando, depois fui acertando a força que eu deveria fazer no pedal para ajustar a velocidade. Quando cheguei no final daquele pedaço de tecido, estiquei ele na minha frente para contemplar minha primeira costura e ela estava alí… completamente torta! Tudo bem, era minha estreia. Vamos lá de novo! Segunda tentativa, outra vez não deu certo.
Vamos lá, com o tempo melhora, pensei. E na terceira tentativa, a linha embolou por trás do tecido, travou a máquina inteira. E aos meus 9 anos, achei que aquela história de costurar na máquina não era para mim. Voltei para a linha e agulha e continuei a fazer as roupinhas do jeito que sabia. E segui feliz com isto, convencida que pilotar máquinas de costura é uma tarefa muito complicada.
Quase 30 anos depois, comecei a seguir algumas postagens de patchwork no Pinterest. Quanta fofura costurada em cores e formas, ficava curiosa, mas aquela voz lá da infância lembrava que “eu não sei”, “eu não consigo”, “é difícil”.
A curiosidade foi maior do que os freios e me matriculei num curso de costura de 12 horas. E não é que já nas 4 primeiras horas saiu uma das peças de jogo americano, com 5 (sim, cinco) pedaços de tecidos diferentes!
Ah, saí mais do que orgulhosa! Sim, tinha vários erros. Mas eu não estava preocupada com eles, pois estava feliz demais em superar mais um “eu não consigo” da minha listinha.
Não era o primeiro “eu não consigo” ou outro auto-julgamento do tipo, que eu tinha ultrapassado. Mas cada pequena conquista desta, em que a gente vence os próprios limites tem um sabor especial! Pois são estes limites que nós mesmos nos colocamos é que, na maior parte das vezes, criam as fronteiras que nos paralisam para ir além.
Então, ainda hoje a máquina as vezes engasga com a linha, as vezes a costura sai um pouco torta, mas o principal é que a diversão de me permitir criar faz com eu me sinta capaz de enfrentar outros “Eu não sei” ou “é difícil”, me permite voar para além dos limites que eu mesma havia me colocado, permite que eu me aproxime mais do infinito de possibilidades que desejo ser, me permite apenas sentar, fluir e criativar.